PRÁTICA LEITORA MULTIMIDIAL

TEMA: Diários e Blogs

                                      Ângela Vera Vogel

                                       Eloni Jordani

PÚBLICO ALVO:

Séries finais do Ensino Fundamental, EJA e Ensino Médio.

OBJETIVO DA PRÁTICA:

ü      Discutir as semelhanças e diferenças entre diários e blogs;

ü      Conhecer diferentes tipos de diário;

ü      Aprender como os diários são estruturados;

ü      Refletir sobre o cuidado que se deve ter com assuntos publicados em blogs;

ü      Criar um diário ou um blog.

MATERIAIS E RECURSOS:

Leituras de artigo sobre o tema:

Meninas renunciam aos blogs e voltam ao diário de papel. – Alan de Faria – Folha de São Paulo.

Leitura e letra de música:

Querido Diário – Eliana

Assistir ao vídeo:

Diários e blogs – Pé na Rua – Programa da TV Cultura de São Paulo.

ETAPAS DA PROPOSTA:

1 – Questionamento aos alunos:

Você já escreveu um diário? E um blog?  Vamos discutir as semelhanças e diferenças entre diário pessoal e um blog. Para isso faremos a leitura da matéria a seguir:

01/09/2008 - 09h24

Meninas renunciam aos blogs e voltam ao diário de papel

ALAN DE FARIA
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Contar detalhes do cotidiano para qualquer pessoa, mesmo para aquelas que não conhecemos, tornou-se comum em blogs, flogs e comunidades virtuais como o Orkut e o Facebook. Mas nem todo mundo quer detalhar segredos íntimos na internet. Não à toa, muitas meninas ainda preferem revelá-los nos velhos diários de papel.

A estudante Andrea Riccio Nieto Lacerda, 19, começou a escrever em diários quando tinha apenas sete anos. À época, por ser uma criança introvertida, sentia-se muito sozinha na escola. "Acho que qualquer garota gosta de sair contando as novidades e os problemas por aí. Como eu não tinha uma amiga em quem confiasse de verdade, comecei a escrever."

Com o passar dos anos, ela deixou de escrever sobre sua rotina e passou a registrar pensamentos, idéias e momentos de angústia em sua agenda.

A relações públicas Débora Pinto Carneiro, 25, que escreve em diários há mais de dez anos, age da mesma forma. "O diário serve para eu desabafar coisas íntimas", confessa.

Já a estudante de jornalismo Ana Carolina Almeida Ferreira, 21, faz jus ao termo "diário" até hoje. "Escrevo todos os dias antes de dormir. Às vezes, quando estou muito cansada, atualizo no dia seguinte, mas todos os dias eu escrevo", diz.

O assunto? O que sente, pensa ou o que fez. "Conto a maior parte das coisas e escrevo como se ela, a minha agenda, soubesse tudo o que acontece comigo, como se ela conhecesse todo mundo. Chega a ser engraçado." Ela já tem nove diários.

Segredo absoluto?

Há três anos escrevendo com freqüência, a programadora de web Flávia Veiga Frota, 24, nunca deixou alguém ler seus textos. "O diário é algo muito pessoal", explica. Em contrapartida, a estudante Nathalia Lira, 16, confessa que concede acesso ao seu diário às pessoas nas quais confia. "A minha melhor amiga nem precisa ler o que eu escrevo, pois eu mesma conto", ressalva.

Carolina não costuma deixar suas amigas lerem o que escreve. No entanto, nas últimas férias, vivenciou algo inusitado. Como esqueceu sua agenda na faculdade, ela não a levou para Américo de Campos (interior de São Paulo, a 540 km da capital), cidade em que mora, e a deixou com uma amiga.

"Eu combinei com ela de mandar as atualizações por e-mail. Assim, eu digitava o que acontecia comigo, e ela escrevia na agenda. Foi a maior prova de amizade que eu já dei para alguém", conta.

Deixar de escrever no diário e passar a relatar o cotidiano na internet nunca passou pela cabeça de Débora. "Não escrevo para que as pessoas saibam o que fiz, mas, sim, para registrar os acontecimentos ou para refletir sobre meus sentimentos."

Segundo relatório do site Technorati, que monitora a blogosfera, havia mais de 70 milhões de blogs em março de 2007 (esse número pode ser superior a 100 milhões hoje) --a cada dia, há dois anos, eram criados 120 mil diários virtuais.

"Não vejo problema nenhum em blogs e flogs. Mas é importante saber que, expondo-se na internet, você sempre está sujeito a especulações e fofocas", acredita Andrea, que criou um blog quanto tinha 14 anos.

"Mas logo desisti dele: meus posts eram imensos, ninguém agüentava ler, e eu cansei de me expor tanto, embora não escrevesse absolutamente tudo o que escreveria em um diário ao qual apenas eu tivesse acesso."

Para evitar problemas, Nathalia não escreve nada muito relevante e revelador na internet. Há três anos, ela relata histórias em diários impressos.

De olho no passado

Mais do que desabafar e detalhar o cotidiano, Débora gosta de, ao reler os textos escritos em seus diários, saber que teve alguns momentos importantes de sua vida registrados.

"Podem, talvez, um dia servir para alguém, filhos, netos, sobrinhos, ou para eu mesma relembrar e aprender a lidar com algumas situações", diz.

Já para Flávia, os diários poderão fazer com que o seu filho saiba um pouco sobre sua vida --ela é mãe de um garoto de 8 meses de vida.

Ou, no caso de Carol, revelar o quanto ela amadureceu. "Vejo uma evolução. Na minha forma de escrever, na minha forma de pensar. Noto como eu cresci e percebo que minhas preocupações, meu jeito de escrever e até a letra mudam. É muito engraçado ler algum texto antigo e pensar: 'Como fui idiota! Não acredito que consegui fazer isso um dia!'".

1.1 – Letra e música – “Querido Diário” – Eliana

Querido diário

Eliana

Composição: Luiz Macedo e Fernando Salem

Querido diário
Hoje eu me senti diferente...
Nem triste e nem contente
Somente senti

No meu calendário
O fim do ano chegando
Levando os meus segredos
Pra longe daqui

Você sabe o que eu passei
Você e mais ninguém
Outros sonhos vou sonhar
No ano que vem

Eu não vou te esquecer
Longe do meu coração
E um dia eu vou ler
Pra você essa canção

Querido diário
Cada dia uma emoção
Escritas no papel
E no meu coração

Meu aniversário
O meu primeiro amor
Um mundo tão bonito
Tão cheio de cor

Você sabe o que eu passei
Você e mais ninguém
Outros sonhos vou sonhar
No ano que vem

Eu não vou te esquecer
Longe do meu coração
E um dia eu vou ler
Pra você essa canção

Querido diário
Eu tenho que terminar
Voltar pra minha casa
Enquanto o céu é azul

No meu calendário
É 31 de dezembro
Agora eu me lembro
Te amo, um beijo: Juju

(2x)

2 - Conhecer diferentes tipos de diário:

 

3 – Estudo da estruturação do diário:

Estrutura do diário:

Motivar os alunos para a leitura dos seguintes livros:


 Diário de Anne Frank – Anne Frank;


 Quarto de Despejo – Diário de uma favelada – Carolina Maria de Jesus;


 Cem Dias entre o Céu e o Mar – Amyr Klink;


 Blog de papel – Vários autores. (O livro traz 14 autores que escrevem na internet os mais diversos tipos de blog: o monólogo interior, o diário, diálogos que mais parecem um teatro do absurdo e vários outros).

4 – Diários na internet: Blog

5 – Muita atenção com os assuntos a serem publicados nos blogs:

6 – Escrevendo um diário:

Durante uma semana, produzir um diário com entradas em tópicos curtos.


1 – Escolhendo o tipo de diário

 Você pode escolher um diário pessoal, no qual vai relatar acontecimentos do seu cotidiano.



 Ou optar por um diário ficcional, com uma personagem inventada escrevendo sobre seu cotidiano.


 Suas anotações podem ser escritas em um livro, caderno ou blog, se você tiver acesso à internet.


2 – Sobre o que escrever


 Durante uma semana, escreva diariamente sobre as situações que forem lhe acontecendo.


 Você também pode anotar situações que aconteceram com outras pessoas, como cenas engraçadas que se passaram com seus familiares ou amigos, ou até episódios tristes.


 E também é possível registrar sentimentos e emoções que você sentiu diante de diferentes acontecimentos.


Sugestão de filme:


Escritores da liberdade – Direção: Richard LaGravenese


O filme conta a história real da professora Erin Gruwell, que busca dar educação a um grupo de alunos desacreditados, em uma região dos Estados Unidos tomada por guerras inter-raciais. Para tanto, ela passa a ler com eles o livro O diário de Anne frank, trabalhando,por meio da literatura, as angustias e os conflitos que surgem na sala de aula. Identificados com a personagem, os alunos passam a escrever seus próprios diários, que se tornam um meio de expressão de seus sentimentos.

Como criar um blog?


www.interneyi.net/blofaq.php?=6490966

http://www.blogger.com.br/

Os textos utilizados como material de apoio foram retirados do livro:LinguaPortuguês - A ARTE DA PALAVRA - 7º ANO - Gabriela Rodella - Flávio Nigro - João Campos.

Roda de Literatura



DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE:

            Este trabalho foi realizado junto com a professora de Educação Artística.

Primeiramente os alunos foram até à Biblioteca e escolheram os livros. Depois que leram, recontaram a história através de desenhos. A próxima etapa foi a “Roda de Literatura”, que consiste em contar resumidamente a história lida para os colegas da turma como forma de incentivo à leitura.

Pintor Gaúcho

PEDRO WEINGARTENER
Pedro Weingärtner (Porto Alegre, 26 de julho de 1853 — Porto Alegre, 26 de dezembro de 1929) foi um pintor, gravador e litógrafobrasileiro.
Weingärtner retratou principalmente cenas regionais e paisagens do Rio Grande do Sul e Itália, bem como temas da mitologia greco-romana, sendo seguramente o primeiro pintor gaúcho a receber reconhecimento nacional e internacional.
Suas obras, de uma técnica refinada e mostrando uma grande preocupação pelo detalhe, podem ser vistas no Museu Nacional de Belas Artes, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), e no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS), entre outras instituições.
bora não se tenha certeza como aprendiz ou mero visitante. De início, Pedro dedicava-se à pintura e ao desenho de forma amadorística, tendo que trabalhar nocomércio para auxiliar a família numerosa.
pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Weingärtner

"Quintal" (Fundo de quintal)

            Sonhos

O que procuram teus olhos menina?

Talvez busquem o sonho distante

Que foi levando pela água na fonte,

E foi se perdendo além do horizonte.

O que lavam tuas mãos menina?

Talvez a tristeza, angustia e solidão

Pesares da alma que a água não lava

E se renovam a cada bater do coração.

Menina não olhe para tapera

Busca teus sonhos mesmo no escuro

Porque eles se escondem lá no futuro

E se renovam com força a cada primavera

Esfrega menina, lava menina

Tira a tristeza de ti, não olhe para traz

Entrega pro rio a espuma encardida

Mas segura com força cada sonho fugaz

Veja menina a tapera não cai

A árvore brota com ânsia

Pra cada sonho que vai

Outro vem na alegria da infância

Esfrega, lava, tenha esperança

Alegra menina teus olhos tristonhos

O rio não leva pra longe a alegria criança

Logo ali bem no horizonte tem um lago cheio de sonhos.

                                     

                                        (Angela Vogel e Eloni Jordani)

(Poema inspirado na imagem acima)

Coração Dividido

            A casa era grande, antiga dividida em muitos cômodos. Os quartos ficavam em uma ala da construção separada por um longo corredor pouco iluminado dos demais ambientes. Pela ampla janela que dava para o pátio dos fundos viam-se os grandes galpões e dois fornos usados para secagem de fumo.

            Olhando além se avistava a vasta plantação de fumo que ia até o inicio do Cerro da Igreja. Os pés de fumo carregados de enormes folhas anunciavam que este ano a safra seria melhor que no anterior, o que alegrava a população de Passo Saint Clair, às margens do Rio Jacuí, interior do município de Agudo.

            O sol raiou cedo anunciando mais um dia de muito trabalho e calor. Laura e Germano levantaram e começaram as primeiras tarefas da sua incansável e rigorosa rotina. Enquanto Germano tratava os animais – patos, galinhas, porcos e as vacas – Laura ordenhava duas vacas que era o suficiente para o seu consumo e ainda sobrava para fazer um queijo por semana e ganhar uns “trocados” extras.

            Feito isso retornam a casa e passam a saborear um chimarrão enquanto Laura preparava a mesa do café da manhã com os produtos cultivados por eles mesmos: leite, queijo, lingüiça, nata, schimier, melado, açúcar “amarelo” e pão de milho assado no forno à lenha que Laura fez questão de manter até os dias de hoje.

            Durante a primeira refeição os dois aproveitam para conversar sobre as “lidas” da lavoura. Nisso toca o celular de Laura. Ela atende:

            - Alô, quem fala?

            Do outro lado uma voz forte, máscula e envolvente responde:

            - Bom dia, Laura! Não “reconheceu” a minha voz?

            Ela, confusa, responde:

            - Não... Quem é?

            - Sou eu, o Valter. Hoje vou fazer uma visita para vocês. Até mais.

            Laura desliga o telefone e dirige-se ao marido dizendo que o instrutor agrícola virá mais tarde para dar orientações sobre a colheita.

            Germano, mentalmente pergunta-se “por que ele não ligou para o meu celular?”

            Ao terminar o café o casal vai para a lavoura. Nesse dia Laura aparenta estar mais disposta, não reclama tanto da vida difícil do trabalho rural. O fato que a deixa animada é a visita do instrutor, pois ainda é jovem e passa dias somente em companhia do marido, que apesar de pouca idade, não gosta de se divertir e preocupa-se exclusivamente com o trabalho.

            Laura volta mais cedo para fazer o almoço, mas antes resolve tomar um banho. Apesar do trabalho árduo é uma moça muito bonita, sua pele clara, de origem alemã, tem um leve tom dourado que lhe confere um ar saudável, os olhos são azuis da cor céu e os lábios finos e rosados demonstram a delicadeza do seu rosto emoldurado por longos cabelos loiros que recebem um cuidado todo especial. Seu corpo esguio é recoberto por um singelo vestido florido. Laura olha-se no espelho, arruma mais uma vez o cabelo e gosta da imagem que vê.

            Vai para a cozinha e prepara o almoço, enquanto escuta os avisos da Rádio Agudo. Germano chega e eles almoçam em silencio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

            O marido vai tirar uma sesta e Laura senta-se à sombra de uma frondosa árvore em frente a sua casa escutando músicas em seu aparelho MP3.

            Nisso ela ouve o barulho de um carro. É Valter, o instrutor que estava chegando e Laura o recebe alegremente. Ela busca uma cadeira e chama o marido. Os três passam a tratar da colheita do fumo, como deverá ser cuidado, a temperatura dos fornos e deixam agendado o dia em que a empresa fará a compra.

            Feito os acertos, Germano vai para a lavoura e Laura oferece chimarrão para Valter. Ele aceita um e diz:

            - Tu “é” uma moça muito bonita, nunca “pensou” em abandonar esta vida de colona?

            Timidamente ela responde:

            - É que me casei bem nova, nunca tive outros namorados; meus pais não me deixavam sair, a não ser para ir à escola.

            Ele insiste:

            - Mas nunca pensou em ter uma vida mais fácil?

            - Até que eu gostaria, mas meu marido jamais concordaria comigo...

            - Ah, se eu tivesse te conhecido antes, te proporcionaria uma vida melhor...

            Valter se despede com um olhar provocante e a deixa muito pensativa.

            Naquela noite Laura procura fazer um carinho em seu marido, mas ele a rejeita dizendo estar com muito sono, pois teve um dia cansativo. A esposa então, perde o sono, imaginando como seria sua vida com outra pessoa e em outro lugar.         As palavras de Valter não saem de seu pensamento.

            No dia seguinte recomeça a rotina diária, somente quebrada pelo torpedo que Laura recebe: “Vc ñ sai do meu pensamento. Valter”.

            Germano pergunta  quem é e pela primeira vez ela mente ao marido, dizendo que é mensagem da operadora.

            Passada uma semana, Valter volta à propriedade para mais uma orientação sobre o cultivo do fumo e encontra Laura sozinha, pois não se sentia bem e não acompanhou o marido no trabalho da lavoura.

            Laura, imediatamente sentiu-se melhor e, dessa vez, convidou Valter para entrar. Aproveitando a pouca iluminação do longo corredor, os dois deixam explodir a incontida atração que sentem um pelo outro. Aproveitando-se da fragilidade e ingenuidade de Laura, o amante propõe encontros na cidade, onde ficarão mais sossegados, sem a possibilidade do marido os encontrar. A partir de então ela passa a arrumar motivos para ir sozinha para a sede do município onde se encontra clandestinamente com seu novo amor.

            Com essa nova relação amorosa, Laura distancia-se do marido que passa a desconfiar da esposa, agora sempre com um ar ausente e sonhador.

            A caminho da lavoura, Germano encontra um amigo que mora próximo de suas terras e conversam:

            - Boa tarde Germano! Tenho percebido que tu “tem” vindo sozinho para lavoura, Laura está doente?

            - Não, ela tem ido bastante para a cidade, sempre acha uma “coisa” pra fazer. Agora até disse que se matriculou num curso de informática...

            - Pois é... já ouvi uns comentários na vizinhança...

            Germano, então, cria coragem e “abre o jogo” com o amigo:

            - Olha, eu tô desconfiado da minha mulher, acho que ela está me traindo...

            - Antes de tomar qualquer decisão espera para ter certeza. Não faça nada de “cabeça quente”. - Alerta o amigo.

            Eles despedem-se e seguem para o trabalho.

            Num dos encontros entre os dois amantes Valter faz a seguinte proposta à amada:

            - Laura, larga do seu marido e vamos embora de Agudo, vou te dar uma vida nova.

            Ela fica muito entusiasmada, mas pede um tempo para pensar. Sai do local onde sempre se encontram angustiada, não sabe o que fazer, que decisão tomar.

            Então, lembra-se da propaganda que ouvia no rádio de uma cartomante chamada Ana que atende na Rua Pássaros e Flores, na vila Caiçara.

            Chegando lá, bate à porta de um a casinha humilde, e uma senhora vem atendê-la. A mulher de aspecto desleixado, com roupas surradas, turbante na cabeça, óculos embaçados e unhas sujas convida-a a sentar-se frente a uma mesa com toalha encardida e rasgada onde crepita um toco de vela.

            A cartomante pega seu baralho gasto pelo uso e começa a desvendar a vida de Laura:

            - Você tem uma vida sofrida, um bom marido, mas não está feliz com ele.

            E apontando para outra carta, diz:

            - Existe outro homem em tua vida. Ele te encanta por ter uma vida diferente da tua. Tu “tá” em dúvida... Cuidado para não “trocar o certo pelo duvidoso...”

            Laura paga o valor de cinquenta reais pela consulta e sai mais angustiada do que quando chegou.

            Retorna para casa e percebendo a desconfiança do marido, no dia seguinte retoma normalmente as suas tarefas rurais.

            Os próximos dias transcorrem normalmente na lavoura de fumo, mas a dúvida continua povoando os pensamentos de Laura, até que no final de semana recebe a visita do instrutor.

            Nesse dia, Germano não se afasta nenhum instante, o que deixa os amantes intrigados. Valter fixa o olhar em Laura, querendo uma resposta, mas ela sempre desvia, com medo de ser descoberta pelo marido.

            Mais tarde quando está sozinha recebe a seguinte mensagem de Valter em seu celular: “Stou pronto. T spero às 9h no lugar de sempre ou nunca mais...”

            Laura passa a noite em claro refletindo sobre a proposta de Valter sem saber o que fazer. Olha para o marido dormindo, lembra da vida que tem com ele e como poderá ser de amanhã em diante. Pensa também nos ensinamentos que recebeu de sua mãe, e nas palavras do Pastor com relação ao casamento. Em meio às dúvidas ela adormece.

            Logo cedo Germano levanta e Laura permanece na cama por mais uns instantes. Confusa e ansiosa resolve arrumar as malas e ir embora com Valter sem falar com seu marido. Ela levanta da cama, vai ordenhar as vacas, prepara o chimarrão e logo em seguida põe a mesa do café. Laura não consegue manter-se calma, entorna o café sobre a toalha branca e Germano pergunta:

            - “Tu tá” com algum problema? Tenho notado que anda muito estranha nos últimos dias.

            Laura responde:

            - Não, está tudo bem, dormi pouco esta noite.

            E Germano insiste:

            - Tem alguma coisa que eu possa ajudar? “Tu sabe” que pode contar comigo sempre.

            As palavras de Germano a deixam perturbada, mas ela responde suspirando profundamente:

            - Não, está tudo bem!

            Os dois terminam o café e o marido levanta para ir à lavoura e antes que ele perguntasse, ela fala:

            - Você se importa se eu não for com você hoje?

            Ele responde meio cabisbaixo:

            - Não tem problema, ultimamente já “tô” acostumado a fazer sozinho todo trabalho da lavoura. Pode ficar em casa.

            Laura ficava cada vez mais confusa, parecia que Germano estava adivinhando algo. Deixou que ele se fosse e foi para o quarto arrumar as malas.   Enquanto dobrava suas roupas ela chorava com medo estar tomando a decisão errada.

            Com as malas prontas ela olha para o relógio que marcava oito horas e deixava-a cada vez mais aflita, pois estava chegando o momento de sair.

            Germano termina de capinar a última carreira de fumo e senta a beira da estrada para descansar e admirar sua lavoura. Sua plantação estava bem cuidada, o que garantia sua safra e boas vendas. Ele já fazia planos para comprar um carro, uma televisão nova que Laura sempre queria e pagar algumas contas que ficaram pendentes nos comércios da cidade.

            Chegando a casa percebeu algo estranho. Na área de entrada, havia flores muito coloridas enfeitando o degrau da porta que estava fechada, o que o deixou muito intrigado.

            Ao entrar, encontra Laura usando um vestido florido, toda cheirosa, arrumando a mesa para um almoço especial, com tudo o que Germano mais gostava. Ele fica assustado tentando lembrar que data importante havia esquecido e todo sem jeito pergunta à esposa:

            _ O que está acontecendo aqui, “tem” visita? Estou esquecendo de alguma data importante?

            E Laura responde sorrindo:

            - Não Germano, estou apenas fazendo um agrado, pois você trabalha incansavelmente de sol a sol e eu não tenho lhe dado o devido valor. Resolvi ficar em casa para lhe fazer esta surpresa.

            Os dois se abraçaram e ele disse:

            - Sou muito feliz por “tu” ser minha mulher... não saberia viver longe de ti.

            Com uma lágrima deslizando em seu rosto, ela responde:

            - Eu também não saberia viver longe de ti, Germano... 

            Os dois sentaram-se à mesa e almoçaram como se nunca tivesse acontecido nada...

           

 Releitura do conto "A Cartomante", de Machado de Assis.

(Angela Vogel e Eloni Jordani)